domingo, 20 de fevereiro de 2011

NÃO SABER É FORMIDÁVEL

Caros (as) Professores (as) do Colégio Brasília

Iniciamos nosso trabalho com o BLOG...
A proposta é apresentar um texto para reflexão...e depois de ler...proceder os comentários.

Proponho um texto do livro "Não Saber é Formidável - Modelo Educacional Etievan - a Educação para o despertar da consciência e o desenvolvimento do sentimento" - Nathalie De Salzmann de Etievan - Ed. Horus:

Capítulo 1 - A Situação Atual - O MUNDO DE HOJE

"O mundo do homem contemporâneo é um mundo sem limites. Um mundo no qual surge uma angústia 'esseral' (neologismo significando 'o que é do ser') onde a negatividade penetrou, tingindo tudo à sua passagem; e o sexo, o medo, a avidez de poder e a violência parecem reger a vida. Basta olhar como se desenrola o nosso dia para nos darmos conta de como a negatividade impregna desde o momento em que saímos de nossa casa. As crianças dos vizinhos, os motoristas na rua, o chefe no escritório, todos buscam em quem ou em que descarregar seu estado de ânimo. Se começamos a ler o jornal é difícil encontrar entre as manchetes da primeira página uma notícia agradável. Tudo se refere a guerras, distúrbios, droga, incompreensão, tensão, matanças, esbanjamento e incompetência. Até no circulo familiar, quando vai nascer um bebê, ouve-se dizer: 'Para que ter filhos numa época como esta'? Os pontos de vista, as opiniões e mesmo as perspectivas do futuro são vistos pelo lado negativo. E a negatividade não é outra coisa senão a negação de si mesmo. O processo começa pelo negar-se a si mesmo e a partir daí, deste sentimento, continua-se negando tudo, passando por muitas formas que vão desde a cólera até a autopiedade. Quase nada se faz sem a sombra do negativo que cobre e envolve tudo, tanto as pessoas e suas reações, quanto as coisas, os acontecimentos e suas circunstâncias.

Outra marca deste século é a violência, que nos arrasta como uma avalanche. Começa a rolar como uma coisinha de nada que vem do alto da montanha, crescendo, ficando cada vez maior, tomando mais impulso, mais velocidade, levando consigo gente, casas, cidades e países. Em nós, como produto de nossa maneira de ver as coisas e de falhas em nossa educação, também cresce a violência, que aumenta até ocupar o primeiro lugar; a partir daí quase mais nada cabe dentro de nós.

Outra característica de hoje é a permissividade que existe em um mundo sem limites nem barreiras. Essa situação impede que o ser adquira uma consciência moral que indique o que é o bem e o mal, e assim causa uma grande insegurança nos homens. Nada é pedido, nada é exigido, nada é indicado, É o sim irrestrito frente ao não inflexível, o não tradicional.

Esse mundo também está marcado pelo signo do materialismo, onde os valores que imperam são o dinheiro, a aquisição de coisas e a avidez pelo poder. A 'valorização' da pessoa - ou 'o que vale' o ser humano - é estabelecida a partir do que ela possui, do que gasta e do poder que ostenta. Portanto, a vida é vista como fonte de prazer, sem o qual ela não tem valor. É essa busca pelo prazer que se obtém unicamente com dinheiro, que rege as vidas, e, por isso, qualquer meio para obtê-lo é válido. O crime se organiza e prospera porque é a própria sociedade que o patrocina.

Outro problema é o sexo. Está mal enfocado, mal compreendido e ocupa um lugar que não lhe corresponde.

Tem-se uma atitude contraditória frente a ele porque, ao mesmo tempo em que é procurado, é desprezado ou rechaçado. Neste mundo caótico, contraditório, angustiante e, ao mesmo tempo, demasiado estruturado, supõe-se que os pais - que não amadureceram suficientemente e que também precisariam passar por muitas experiências pessoais - sejam capazes de saber e poder educar seus filhos. Mas a realidade é que esta é uma tarefa acima das suas possibilidades.

OS PAIS NO MUNDO DE HOJE

Sustentar uma família nos dias de hoje converteu-se numa 'maratona' que obriga o casal - tanto a mulher quanto o homem - a trabalhar para conseguir um rendimento que lhe permita cumprir com as responsabilidades econômicas. Por isso, por força das circunstâncias, os pais de hoje se converteram mais em provedores do que em educadores de seus filhos. Quando voltam para casa depois dessa lida diária, de tantas vicissitudes, num mundo cheio de pressões e conflitos frente ao qual, na maioria dos casos, se sentem impotentes, o que é que trazem? Cansaço, tensões e problemas que, gerando um clima de conflitos, vêem provocar medos, angústias e inseguranças no lar. Diante disto, o pai educador se desculpa e cede lugar ao pai provedor. Desculpas que não servem para a criança preencher o vazio produzido por essa situação.

As crianças, frente a essa falta de atenção, que recebem como se fosse falta de amor, sentem-se abandonadas e reagem de diferentes formas: evasão, agressão e uso de drogas. Os pais, em compensação, para mitigar seu profundo sentimento de culpa, enchem seus filhos com brinquedos e presentes, tentando dessa maneira garantir seu afeto.

Por outro lado, alguns pais, que receberam uma educação em certos casos permissiva e em outros repressiva, ao não verem resultados positivos para si mesmos, reagem contra esse tipo de educação dando outra totalmente oposta à que receberam. Com esse ir e vir de um extremo a outro só se pode conseguir resultados negativos.

Há também os pais que não receberam nenhuma educação específica. Nesse caso, eles não têm uma experiência à qual se referir e, portanto, sem ponto de referência, não sabem o que fazer e desistem antes mesmo de terem tentado. Essa desistência os leva a submergir mais em sua imaginação ou em suas ambições, sem enfrentar nem se confrontar com a realidade, seja a de seus filhos ou a que lhe apresentam os educadores de seus filhos. Rechaçam tudo o que lhes é dito pelos professores. Em vez de ajudar o educador, na maioria dos casos, e para atenuar seu sentimento de culpa, tornam-se defensores de seus filhos com consequente prejuízo para estes.

Outros ainda, sem convicção própria, repetem a educação recebida ou experimentam diferentes fórmulas 'pré-fabricadas', obtendo assim resultados também negativos.

Esse estado de coisas leva os pais a afastarem-se da educação de seus filhos e a concentrar seus interesses, com maior ênfase, em coisa externas, alheias à vida interior do ser humano; ganhar dinheiro, buscar prazer, prestígio e posição. Os filhos sentem os resultados de tal circunstância como uma falta de interesse, embora, na realidade, sejam queridos por seus pais. Essa situação de aparente ausência de afeto e interesse leva as crianças e jovens a reações e atitudes que os separam ainda mais e que deixam nos pais um sentimento de impotência. Um sentimento de que a situação os ultrapassou e que, em alguns casos, pode parecer tarde demais para corrigi-la ou evitá-la.

Dentro das circunstâncias que determinam a situação atual e a relação existente entre pais e filhos, está o problema da relação entre os próprios pais. Em muitos casos, é um relacionamento malconduzido. Cada um culpa o outro pela sua própria infelicidade. Criticam-se mutuamente deixando na criança a impressão de que 'o outro me deve algo, porém eu não devo nada a ninguém', ou, o que dá no mesmo, 'tenho direitos, mas não tenho deveres'.

Situações gerais como estas, dificuldades em casa, relações difíceis com os filhos, enfrentamentos diários com um mundo frequentemente hostil e negativo, levam o ser humano a tentar escapar de si mesmo, de sua vida interior tão cheia de recriminações, sentimentos de culpa e impotência. O mundo exterior, que, com suas exigências e imposições, coloca o homem frente a suas limitações, contribui também para que esse homem tente escapar de sua própria realidade, buscando o desafogo no álcool, no sexo desenfreado e em tudo aquilo que o ajude a encontrá-lo. No entanto, para ser enfrentada, essa realidade exige outra coisa - exige conhecer-se a si mesmo, sentir-se querido e querer aos seus seres mais chegados: sua mulher, seus filhos, sua família.

Quase tudo que o mundo de hoje oferece ao ser humano parece preparado para que a atenção seja totalmente colocada no que está fora e não em algo que se refira à sua vida interior. Enquanto isso não mudar, enquanto essa direção da atenção não se inverter e se equilibrar, as coisas deverão piorar cada vez mais. E não é  que o homem não queira aproximar-se do seu mundo interior. O ser humano tem um anseio profundo de superação e um grande desejo de relacionar-se com algo superior: Deus, chamado de diferentes maneiras. Mas, por não ter sido educado numa verdadeira busca espiritual de sua própria essência, baseada num trabalho para o conhecimento de si mesmo, ele se encontra com um enigma demasiado complexo e difícil de decifrar sem uma base adequada, e, como consequência, esse anseio se disvirtua e toma outros caminhos.

AS CRIANÇAS NO MUNDO DE HOJE

A criança, como uma criança esponja, absorve este mundo mesclado, negativo e confuso; ela reage contra isso. Não está preparada para esse mundo, nem quer recebê-lo; porém, se não se apresentar algo de melhor qualidade, se não lhe for dada uma direção positiva com suficiente cotinuidade, se não receber afeto e atenção justos, bons e estimulantes... que alternativa lhe resta?

A criança se sente intensamente só. Em casa, a ausência dos pais e a carência de valores espirituais a levam a um vácuo, a uma falta de sentimento e a um desrespeito pelo mundo. O mau relacionamento entre os pais faz com que a criança não possa crer no amor, pois não sabe o que é, não o sente, não vive nele, portanto, não pode produzi-lo.

A educação de hoje está quase exclusivamente dirigida ao desenvolvimento da mente. Existe uma admiração exagerada para o que se chama inteligência ou capacidade intelectual às custas dos sentimentos e do corpo. Simón Bolivar disse: 'O talento sem probidade é um chicote'. É essa ênfase desequilibrada que faz com que tanto na escola como no lar se dêem tão somente explicações teóricas, dirigidas unicamente à mente da criança, que as ouve e grava, porém não as compreende, porque não estando envolvidas as suas outras partes - o corpo e o sentimento - tais explicações não são assimiladas. As coisas são explicadas à criança sem que esta seja levada em conta integralmente, sem que se considerem seus sentimentos e seu instinto. Esquece-se da criança por causa de ideias que acabam sendo mais importantes do que ela.

Os pais não sabem que têm de expressar externa e intencionalmente seus sentimentos aos filhos e, por isso, estes não recebem a quantidade nem a qualidade de carinho de que necessitam. E é esse carinho o fator fundamental para que neles se desenvolvam a estima e a confiança em si mesmos. Claro está que os pais percebem que está faltando algo, porém infelizmente substituem o esforço diário de dar carinho por satisfações externas que são muito mais fáceis de providenciar: simplesmente vão e as compram.

Nessa condições, crianças e jovens buscam refúgio na televisão, nos amigos, nas drogas, nos bens materiais, na passividade ou na rebeldia. Tentam escapar da realidade tratando de criar um mundo excitante. Encontram em seus amigos seres absolutamente iguais a eles, com suas mesmas carências; por isso sentem-se seguros e confortáveis com eles. Essas associações de seres que ainda não estão formados e que não compreendem seu papel na vida, nem o que esta representa, os levam a copiar tudo quanto vêem em seu redor, aquilo que lhes oferece o cinema e a televisão... e que nem sempre é o mais edificante. Copiam atitudes entre si mesmos e criam uma maneira de ser negativa, passiva e às vezes violenta. Daí surgem 'patotas' e outras formas de rechaço à sociedade e de negação do mundo em que vivem, incluindo tudo aquilo que representa autoridade, direção ou disciplina.

Outro veículo de escape é a televisão, cujos programas de maior audiência estão centrados na violência, utilizando como justificativas a luta do bem contra o mal. Mesmo por trás dos programas chamados 'educativos' em muitos casos há temores e agressão. Até nos desenhos animados existe uma violência dissimulada, em que o 'bom'  exerce violência física sobre o 'mau' e, no melhor dos casos, zomba dele de forma contundente. Não há castigo por se matar o 'mau', se você é o 'bom'. Além disso, em geral, os demais programas infantis, de muito baixa qualidade quanto à apresentação dos valores espirituais e morais que poderia ter o ser humano, são de uma pobreza intelectual impressionamente.

O resultado de tudo isso é que o jovem não encontra em sua casa nada que o estimule, não vê coisas nem exemplos positivos nos seus amigos, nem na televisão, e se refugia no rechaço, na droga e na fuga de todo tipo de responsabilidade. Não obstante, no fundo, por trás de todas essas ações o que há é uma grande insegurança. Assim vai se formando um modo de ser passivo - até fisicamente - contra um mundo no qual não crê e por isso mesmo não pode respeitar.

Toda essa situação da criança provém de uma só carência básica: a profunda necessidade de amor.

Como aprender a dar amor? Por meio de uma atenção dirigida e voluntária, várias vezes durante o dia. Essa espécie de atenção ou amor, posta imediatamente sobre a criança, em repetidas ocasiões, é absolutamente necessária para poder educar e, ao mesmo tempo, aprender a expressar os sentimentos mais profundos que se tem em relação a ela. A criança é um ser aberto a quem falta - e que necessita de - guia e direção constante. É preciso aproximá-la de si fisicamente, acariciá-la, e também tocar seu sentimento. Fazê-la sentir o carinho e o amor que se tem por ela.

Em nossa escola os professores são treinados no desenvolvimento de uma atenção mais fina e no deixar fluir livremente a expressão de afeto ou sentimento positivo que nutrem pelas crianças. Quando a criança recebe esse sentimento, é impregnada por ela, o armazena e depois o expressa livremente também, capacitando-se assim para dar e receber amor. Nessas condições, a criança sente-se aceita, respeitada e querida. Ao absorver esses sentimentos positivos, sentirá o mesmo por seu próprio ser, respeitando-se, aceitando-se e querendo-se de maneira justa, sem tinturas de vaidade nem egocentrismo pernicioso. Desenvolverá segurança e confiança em si mesma. É isto exatamente o que a criança haverá de projetar em sua relação com os demais, iniciando assim uma corrente de novas possibilidades nas relações entre os seres humanos. O negativo terá deixado de ser interessane para ela e não terá necessidade de adotar atitudes agressivas ou de rechaço contra si mesma nem contra as outras pessoas."

...Este é o primeiro capítulo... leiam, reflitam e escrevam seus comentários... o segundo capítulo intitula-se A EDUCAÇÃO... indico esse material como imprescindível na estante de educadores.

...O prazo para finalizar essa fase é de 15 dias... portanto expira em 07 de março de 2011.

... Na sequência faremos uma lista com rodízio dos professores que irão editar seus textos aqui para refletirmos...

Bom trabalho!

Vania Longo
Coordenação Pedagógica