domingo, 22 de maio de 2011

Novo Conceito

Minha intenção inicial era escrever sobre o último livro que li: “Pensar é Transgredir” de Lya Luft, além de recomendá-lo por ser sensacional. Porém, alguns acontecimentos obrigaram-me a alterar minha primeira ideia.

Dividirei com vocês a última lição aprendida! Inicialmente, devo confessar que tentei me livrar do medo que sinto ou que todos provavelmente sintam ao desnudar e apresentar aos outros seus sórdidos e perversos preconceitos, fruto de situações vividas e aprendidas em nosso cotidiano esmagador e violento.

Em abril de 2006, havia me mudado para São Bernardo do Campo há apenas seis meses. Estávamos felizes e realizados pela conquista e curtindo o novo. Mas, por um infortúnio, fomos assaltados.

Enquanto, entravamos na garagem de casa, quatro jovens rapazes e uma garota, de no máximo, 20 anos, nos renderam e, em aproximadamente, quinze minutos levaram tudo o que puderam. Meu marido ficou com a roupa do corpo e meu filho sem todos os eletrônicos que divertem as crianças do nosso tempo.

Pavor, tristeza, rancor e revolta tomaram conta de todos os meus pensamentos. Meu único desejo passou a ser vingança. Torcia todos os dias para que me ligassem da delegacia para que eu fosse reconhecer aqueles marginais.

Como estou disposta a revelar meus verdadeiros sentimentos, esforçando-me para não sentir tanto medo do que pensarão a meu respeito, preciso ser honesta na escolha das palavras.

Não me lembro de ter me referido àquelas pessoas como marginais. Fiz muito pior! Dizia para mim e todos os que conviviam comigo: “Espero que os policiais encontrem aqueles desgraçados e acabem com todos. Assim, serão menos cinco porcarias a conviver com pessoas de bem”.

Faz cinco anos que vivi o horror de ter uma arma apontada para a cabeça e, apenas agora consigo pensar naquelas pessoas com outro olhar.

Nos últimos dias, uma pessoa muito querida sofreu uma decepção que alterou meus conceitos e preconceitos, minha visão deturpada, meu ódio oculto e reservado, além de me obrigar a relembrar a situação já descrita. O que me fez muito bem porque conheci de perto a outra posição de toda essa história.

Essa pessoa a que me refiro com muita descrição, por motivos óbvios, recebeu a notícia de que seu sobrinho de apenas 21 anos de idade foi acusado e preso, temporariamente, por praticar roubo à mão armada. Até que a justiça consiga provar o envolvimento deste rapaz no ato criminoso, ele é considerado inocente por todos que o amam e não conseguem acreditar que esse pesadelo tenha qualquer nuance de possível realidade.

Essa situação triste, vivida por uma pessoa que admiro e por quem tenho um carinho especial, me fez pensar nas famílias daqueles que roubaram meu momento de alegria e os objetos que acabará de adquirir.

Provavelmente alguns sofreram ou sofrem tanto quanto essa pessoa querida por mim está padecendo agora por conta da infração ou delito realizado ou não por seu sobrinho.

A dor do desapontamento, da desilusão e da ausência de explicação para tudo o que está acontecendo tem deixado essa conhecida, arrasada, abatida e profundamente magoada e preocupada com seu sobrinho.

Desde então, tenho desejado ardentemente que nenhum policial encontre os envolvidos no roubo da minha casa, que suas mães, tias, primas, pais, irmãos, etc; nunca apresentem um olhar lúgubre, desapontado e apavorado e, por fim que nossos jovens perdidos nas ilusões do mundo criminoso, possam renovar seus desejos e expectativas, que percebam a existência de outros caminhos a percorrer e que consigam se desvencilhar das garras algozes do crime.

Luciana Fernandes.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Nós, por nós mesmos

Crônica de Marta Medeiros

Depois de um bom tempo dizendo que eu era a mulher da vida dele, um belo dia eu recebo um e-mail dizendo: 'olha, não dá mais'.
Tá certo que a gente tava quase se matando e que o namoro já tinha acabado mesmo, mas não se termina nenhuma história de amor (e eu ainda o amava muito) com um e-mail, não é mesmo?
Liguei pra tentar conversar e terminar tudo decentemente e ele respondeu: mas agora eu to comendo um lanche com amigos'. Enfim, fiquei pra morrer algumas semanas até que decidi que precisava ser uma mulher melhor para ele. Quem sabe eu ficando mais bonita, mais equilibrada ou mais inteligente, ele não volta pra mim?
Foi assim que me matriculei simultaneamente numa academia de ginástica, num centro budista e em um curso de cinema. Nos meses que se seguiram eu me tornei dos seres mais malhados, calmos, espiritualizados e cinéfilos do planeta. E sabe o que aconteceu? Nada, absolutamente nada, ele continuou não lembrando que eu existia.
Aí achei que isso não podia ficar assim, de jeito nenhum, eu precisava ser ainda melhor pra ele, sim, ele tinha que voltar pra mim de qualquer jeito!
Pra isso, larguei de vez a propaganda, que eu não suportava mais, e resolvi me empenhar na carreira de escritora, participei de vários livros, terminei meu próprio livro, ganhei novas colunas em revistas, quintupliquei o número de leitores do meu site e nada aconteceu. Mas eu sou taurina com ascendente em áries, lua em gêmeos, filha única! Eu não desisto fácil assim de um amor, e então resolvi tinha que ser uma super ultra mulher para ele, só assim ele voltaria pra mim.
Foi então que passei 35 dias na Europa, exclusivamente em minha companhia, conhecendo lugares geniais, controlando meu pânico em estar sozinha e longe de casa, me tornando mais culta e vivida. Voltei de viagem e tchân, tchân, tchân, tchân: nem sinal de vida.
Comecei um documentário com um grande amigo, aprendi a fazer strip, cortei meu cabelo 145 vezes, aumentei a terapia, li mais uns 30 livros, ajudei os pobres, rezei pra Santo Antonio umas 1.000 vezes, torrei no sol, fiz milhares de cursos de roteiro, astrologia e história, aprendi a nadar, me apaixonei por praia, comprei todas as roupas mais lindas de Paris.
Como última cartada, para ser a melhor mulher do planeta, eu resolvi ir morar sozinha. Aluguei um apartamento charmoso, decorei tudo brilhantemente, chamei amigos para a inauguração, servi bom vinho e comidinhas feitas, claro, por mim, que também finalmente aprendi a cozinhar. Resultado disso tudo: silêncio absoluto.
O tempo passou, eu continuei acordando e indo dormir todos os dias querendo ser mais feliz para ele, mais bonita para ele, mais mulher para ele.
Até que algo sensacional aconteceu...
Um belo dia eu acordei tão bonita, tão feliz, tão realizada, tão mulher, que eu acabei me tornando mulher DEMAIS para ele. Ele quem mesmo???
Martha Medeiros

Colegas
O texto versa sobre desamores, mas cabe nas diversas outras situações de rompimento: amizade, emprego...
Embora a personagem seja feminina, também cabe às diversas outras opções.
Quantas vezes já nos encontramos em situações semelhantes? Quantas vezes nos sentimos pequeninos, por termos permitido que assim nos tornassem?
Mas, sempre existe a volta por cima.
Aproveitem!
Um beijo.
Vera Maria

terça-feira, 5 de abril de 2011

Quem morre???

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.
Pablo Neruda

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A vida!

Por muito tempo eu pensei que a minha vida fosse se tornar uma vida de verdade.
Mas sempre havia um obstáculo no caminho,
algo a ser ultrapassado antes de começar a viver,
um trabalho não terminado, uma conta a ser paga.
Aí sim, a vida de verdade começaria.
Por fim, cheguei a conclusão de que esses obstáculos eram a minha vida de verdade.
Essa perspectiva tem me ajudado a ver que não existe um caminho para a felicidade.
A felicidade é o caminho!
Assim, aproveite todos os momentos que você tem.
E aproveite-os mais se você tem alguém especial para compartilhar,
especial o suficiente para passar seu tempo;
e lembre-se que o tempo não espera ninguém.
Portanto, pare de esperar até que você termine a faculdade;
até que você volte para a faculdade;
até que você perca 5 quilos;
até que você ganhe 5 quilos;
até que você tenha tido filhos;
até que seus filhos tenham saído de casa;
até que você se case;
até que você se divorcie;
até sexta à noite;
até segunda de manhã;
até que você tenha comprado um carro ou uma casa nova;
até que seu carro ou sua casa tenham sido pagos;
até o próximo verão, outono, inverno;
até que você esteja aposentado;
até que a sua música toque;
até que você tenha terminado seu drink;
até que você esteja sóbrio de novo;
até que você morra;
E decida que não há hora melhor para ser feliz do que AGORA MESMO...
Lembre-se:
"Felicidade é uma viagem, não um destino".
"Quem tem um porquê viver, encontrará, quase sempre o como."

HENFIL

quinta-feira, 24 de março de 2011

O que é ? O que é?

O Que É, O Que É?

Eu fico
Com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...
Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...
Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...
E a vida!
E a vida o que é?
Diga lá, meu irmão
Ela é a batida
De um coração
Ela é uma doce ilusão
Hê! Hô!...
E a vida
Ela é maravilha
Ou é sofrimento?
Ela é alegria
Ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão...
Há quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo...
Há quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo...
Há quem fale
Que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor...
Você diz que é luxo e prazer
Ele diz que a vida é viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é
E o verbo é sofrer...
Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser...
Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte...

Gonzaguinha

domingo, 20 de fevereiro de 2011

NÃO SABER É FORMIDÁVEL

Caros (as) Professores (as) do Colégio Brasília

Iniciamos nosso trabalho com o BLOG...
A proposta é apresentar um texto para reflexão...e depois de ler...proceder os comentários.

Proponho um texto do livro "Não Saber é Formidável - Modelo Educacional Etievan - a Educação para o despertar da consciência e o desenvolvimento do sentimento" - Nathalie De Salzmann de Etievan - Ed. Horus:

Capítulo 1 - A Situação Atual - O MUNDO DE HOJE

"O mundo do homem contemporâneo é um mundo sem limites. Um mundo no qual surge uma angústia 'esseral' (neologismo significando 'o que é do ser') onde a negatividade penetrou, tingindo tudo à sua passagem; e o sexo, o medo, a avidez de poder e a violência parecem reger a vida. Basta olhar como se desenrola o nosso dia para nos darmos conta de como a negatividade impregna desde o momento em que saímos de nossa casa. As crianças dos vizinhos, os motoristas na rua, o chefe no escritório, todos buscam em quem ou em que descarregar seu estado de ânimo. Se começamos a ler o jornal é difícil encontrar entre as manchetes da primeira página uma notícia agradável. Tudo se refere a guerras, distúrbios, droga, incompreensão, tensão, matanças, esbanjamento e incompetência. Até no circulo familiar, quando vai nascer um bebê, ouve-se dizer: 'Para que ter filhos numa época como esta'? Os pontos de vista, as opiniões e mesmo as perspectivas do futuro são vistos pelo lado negativo. E a negatividade não é outra coisa senão a negação de si mesmo. O processo começa pelo negar-se a si mesmo e a partir daí, deste sentimento, continua-se negando tudo, passando por muitas formas que vão desde a cólera até a autopiedade. Quase nada se faz sem a sombra do negativo que cobre e envolve tudo, tanto as pessoas e suas reações, quanto as coisas, os acontecimentos e suas circunstâncias.

Outra marca deste século é a violência, que nos arrasta como uma avalanche. Começa a rolar como uma coisinha de nada que vem do alto da montanha, crescendo, ficando cada vez maior, tomando mais impulso, mais velocidade, levando consigo gente, casas, cidades e países. Em nós, como produto de nossa maneira de ver as coisas e de falhas em nossa educação, também cresce a violência, que aumenta até ocupar o primeiro lugar; a partir daí quase mais nada cabe dentro de nós.

Outra característica de hoje é a permissividade que existe em um mundo sem limites nem barreiras. Essa situação impede que o ser adquira uma consciência moral que indique o que é o bem e o mal, e assim causa uma grande insegurança nos homens. Nada é pedido, nada é exigido, nada é indicado, É o sim irrestrito frente ao não inflexível, o não tradicional.

Esse mundo também está marcado pelo signo do materialismo, onde os valores que imperam são o dinheiro, a aquisição de coisas e a avidez pelo poder. A 'valorização' da pessoa - ou 'o que vale' o ser humano - é estabelecida a partir do que ela possui, do que gasta e do poder que ostenta. Portanto, a vida é vista como fonte de prazer, sem o qual ela não tem valor. É essa busca pelo prazer que se obtém unicamente com dinheiro, que rege as vidas, e, por isso, qualquer meio para obtê-lo é válido. O crime se organiza e prospera porque é a própria sociedade que o patrocina.

Outro problema é o sexo. Está mal enfocado, mal compreendido e ocupa um lugar que não lhe corresponde.

Tem-se uma atitude contraditória frente a ele porque, ao mesmo tempo em que é procurado, é desprezado ou rechaçado. Neste mundo caótico, contraditório, angustiante e, ao mesmo tempo, demasiado estruturado, supõe-se que os pais - que não amadureceram suficientemente e que também precisariam passar por muitas experiências pessoais - sejam capazes de saber e poder educar seus filhos. Mas a realidade é que esta é uma tarefa acima das suas possibilidades.

OS PAIS NO MUNDO DE HOJE

Sustentar uma família nos dias de hoje converteu-se numa 'maratona' que obriga o casal - tanto a mulher quanto o homem - a trabalhar para conseguir um rendimento que lhe permita cumprir com as responsabilidades econômicas. Por isso, por força das circunstâncias, os pais de hoje se converteram mais em provedores do que em educadores de seus filhos. Quando voltam para casa depois dessa lida diária, de tantas vicissitudes, num mundo cheio de pressões e conflitos frente ao qual, na maioria dos casos, se sentem impotentes, o que é que trazem? Cansaço, tensões e problemas que, gerando um clima de conflitos, vêem provocar medos, angústias e inseguranças no lar. Diante disto, o pai educador se desculpa e cede lugar ao pai provedor. Desculpas que não servem para a criança preencher o vazio produzido por essa situação.

As crianças, frente a essa falta de atenção, que recebem como se fosse falta de amor, sentem-se abandonadas e reagem de diferentes formas: evasão, agressão e uso de drogas. Os pais, em compensação, para mitigar seu profundo sentimento de culpa, enchem seus filhos com brinquedos e presentes, tentando dessa maneira garantir seu afeto.

Por outro lado, alguns pais, que receberam uma educação em certos casos permissiva e em outros repressiva, ao não verem resultados positivos para si mesmos, reagem contra esse tipo de educação dando outra totalmente oposta à que receberam. Com esse ir e vir de um extremo a outro só se pode conseguir resultados negativos.

Há também os pais que não receberam nenhuma educação específica. Nesse caso, eles não têm uma experiência à qual se referir e, portanto, sem ponto de referência, não sabem o que fazer e desistem antes mesmo de terem tentado. Essa desistência os leva a submergir mais em sua imaginação ou em suas ambições, sem enfrentar nem se confrontar com a realidade, seja a de seus filhos ou a que lhe apresentam os educadores de seus filhos. Rechaçam tudo o que lhes é dito pelos professores. Em vez de ajudar o educador, na maioria dos casos, e para atenuar seu sentimento de culpa, tornam-se defensores de seus filhos com consequente prejuízo para estes.

Outros ainda, sem convicção própria, repetem a educação recebida ou experimentam diferentes fórmulas 'pré-fabricadas', obtendo assim resultados também negativos.

Esse estado de coisas leva os pais a afastarem-se da educação de seus filhos e a concentrar seus interesses, com maior ênfase, em coisa externas, alheias à vida interior do ser humano; ganhar dinheiro, buscar prazer, prestígio e posição. Os filhos sentem os resultados de tal circunstância como uma falta de interesse, embora, na realidade, sejam queridos por seus pais. Essa situação de aparente ausência de afeto e interesse leva as crianças e jovens a reações e atitudes que os separam ainda mais e que deixam nos pais um sentimento de impotência. Um sentimento de que a situação os ultrapassou e que, em alguns casos, pode parecer tarde demais para corrigi-la ou evitá-la.

Dentro das circunstâncias que determinam a situação atual e a relação existente entre pais e filhos, está o problema da relação entre os próprios pais. Em muitos casos, é um relacionamento malconduzido. Cada um culpa o outro pela sua própria infelicidade. Criticam-se mutuamente deixando na criança a impressão de que 'o outro me deve algo, porém eu não devo nada a ninguém', ou, o que dá no mesmo, 'tenho direitos, mas não tenho deveres'.

Situações gerais como estas, dificuldades em casa, relações difíceis com os filhos, enfrentamentos diários com um mundo frequentemente hostil e negativo, levam o ser humano a tentar escapar de si mesmo, de sua vida interior tão cheia de recriminações, sentimentos de culpa e impotência. O mundo exterior, que, com suas exigências e imposições, coloca o homem frente a suas limitações, contribui também para que esse homem tente escapar de sua própria realidade, buscando o desafogo no álcool, no sexo desenfreado e em tudo aquilo que o ajude a encontrá-lo. No entanto, para ser enfrentada, essa realidade exige outra coisa - exige conhecer-se a si mesmo, sentir-se querido e querer aos seus seres mais chegados: sua mulher, seus filhos, sua família.

Quase tudo que o mundo de hoje oferece ao ser humano parece preparado para que a atenção seja totalmente colocada no que está fora e não em algo que se refira à sua vida interior. Enquanto isso não mudar, enquanto essa direção da atenção não se inverter e se equilibrar, as coisas deverão piorar cada vez mais. E não é  que o homem não queira aproximar-se do seu mundo interior. O ser humano tem um anseio profundo de superação e um grande desejo de relacionar-se com algo superior: Deus, chamado de diferentes maneiras. Mas, por não ter sido educado numa verdadeira busca espiritual de sua própria essência, baseada num trabalho para o conhecimento de si mesmo, ele se encontra com um enigma demasiado complexo e difícil de decifrar sem uma base adequada, e, como consequência, esse anseio se disvirtua e toma outros caminhos.

AS CRIANÇAS NO MUNDO DE HOJE

A criança, como uma criança esponja, absorve este mundo mesclado, negativo e confuso; ela reage contra isso. Não está preparada para esse mundo, nem quer recebê-lo; porém, se não se apresentar algo de melhor qualidade, se não lhe for dada uma direção positiva com suficiente cotinuidade, se não receber afeto e atenção justos, bons e estimulantes... que alternativa lhe resta?

A criança se sente intensamente só. Em casa, a ausência dos pais e a carência de valores espirituais a levam a um vácuo, a uma falta de sentimento e a um desrespeito pelo mundo. O mau relacionamento entre os pais faz com que a criança não possa crer no amor, pois não sabe o que é, não o sente, não vive nele, portanto, não pode produzi-lo.

A educação de hoje está quase exclusivamente dirigida ao desenvolvimento da mente. Existe uma admiração exagerada para o que se chama inteligência ou capacidade intelectual às custas dos sentimentos e do corpo. Simón Bolivar disse: 'O talento sem probidade é um chicote'. É essa ênfase desequilibrada que faz com que tanto na escola como no lar se dêem tão somente explicações teóricas, dirigidas unicamente à mente da criança, que as ouve e grava, porém não as compreende, porque não estando envolvidas as suas outras partes - o corpo e o sentimento - tais explicações não são assimiladas. As coisas são explicadas à criança sem que esta seja levada em conta integralmente, sem que se considerem seus sentimentos e seu instinto. Esquece-se da criança por causa de ideias que acabam sendo mais importantes do que ela.

Os pais não sabem que têm de expressar externa e intencionalmente seus sentimentos aos filhos e, por isso, estes não recebem a quantidade nem a qualidade de carinho de que necessitam. E é esse carinho o fator fundamental para que neles se desenvolvam a estima e a confiança em si mesmos. Claro está que os pais percebem que está faltando algo, porém infelizmente substituem o esforço diário de dar carinho por satisfações externas que são muito mais fáceis de providenciar: simplesmente vão e as compram.

Nessa condições, crianças e jovens buscam refúgio na televisão, nos amigos, nas drogas, nos bens materiais, na passividade ou na rebeldia. Tentam escapar da realidade tratando de criar um mundo excitante. Encontram em seus amigos seres absolutamente iguais a eles, com suas mesmas carências; por isso sentem-se seguros e confortáveis com eles. Essas associações de seres que ainda não estão formados e que não compreendem seu papel na vida, nem o que esta representa, os levam a copiar tudo quanto vêem em seu redor, aquilo que lhes oferece o cinema e a televisão... e que nem sempre é o mais edificante. Copiam atitudes entre si mesmos e criam uma maneira de ser negativa, passiva e às vezes violenta. Daí surgem 'patotas' e outras formas de rechaço à sociedade e de negação do mundo em que vivem, incluindo tudo aquilo que representa autoridade, direção ou disciplina.

Outro veículo de escape é a televisão, cujos programas de maior audiência estão centrados na violência, utilizando como justificativas a luta do bem contra o mal. Mesmo por trás dos programas chamados 'educativos' em muitos casos há temores e agressão. Até nos desenhos animados existe uma violência dissimulada, em que o 'bom'  exerce violência física sobre o 'mau' e, no melhor dos casos, zomba dele de forma contundente. Não há castigo por se matar o 'mau', se você é o 'bom'. Além disso, em geral, os demais programas infantis, de muito baixa qualidade quanto à apresentação dos valores espirituais e morais que poderia ter o ser humano, são de uma pobreza intelectual impressionamente.

O resultado de tudo isso é que o jovem não encontra em sua casa nada que o estimule, não vê coisas nem exemplos positivos nos seus amigos, nem na televisão, e se refugia no rechaço, na droga e na fuga de todo tipo de responsabilidade. Não obstante, no fundo, por trás de todas essas ações o que há é uma grande insegurança. Assim vai se formando um modo de ser passivo - até fisicamente - contra um mundo no qual não crê e por isso mesmo não pode respeitar.

Toda essa situação da criança provém de uma só carência básica: a profunda necessidade de amor.

Como aprender a dar amor? Por meio de uma atenção dirigida e voluntária, várias vezes durante o dia. Essa espécie de atenção ou amor, posta imediatamente sobre a criança, em repetidas ocasiões, é absolutamente necessária para poder educar e, ao mesmo tempo, aprender a expressar os sentimentos mais profundos que se tem em relação a ela. A criança é um ser aberto a quem falta - e que necessita de - guia e direção constante. É preciso aproximá-la de si fisicamente, acariciá-la, e também tocar seu sentimento. Fazê-la sentir o carinho e o amor que se tem por ela.

Em nossa escola os professores são treinados no desenvolvimento de uma atenção mais fina e no deixar fluir livremente a expressão de afeto ou sentimento positivo que nutrem pelas crianças. Quando a criança recebe esse sentimento, é impregnada por ela, o armazena e depois o expressa livremente também, capacitando-se assim para dar e receber amor. Nessas condições, a criança sente-se aceita, respeitada e querida. Ao absorver esses sentimentos positivos, sentirá o mesmo por seu próprio ser, respeitando-se, aceitando-se e querendo-se de maneira justa, sem tinturas de vaidade nem egocentrismo pernicioso. Desenvolverá segurança e confiança em si mesma. É isto exatamente o que a criança haverá de projetar em sua relação com os demais, iniciando assim uma corrente de novas possibilidades nas relações entre os seres humanos. O negativo terá deixado de ser interessane para ela e não terá necessidade de adotar atitudes agressivas ou de rechaço contra si mesma nem contra as outras pessoas."

...Este é o primeiro capítulo... leiam, reflitam e escrevam seus comentários... o segundo capítulo intitula-se A EDUCAÇÃO... indico esse material como imprescindível na estante de educadores.

...O prazo para finalizar essa fase é de 15 dias... portanto expira em 07 de março de 2011.

... Na sequência faremos uma lista com rodízio dos professores que irão editar seus textos aqui para refletirmos...

Bom trabalho!

Vania Longo
Coordenação Pedagógica